Gaguinho e eu temos sérios problemas de comunicação. Eu digo vermelho e ele compreende amarelo. Digo verde e ele azul. Na quinta-feira ele vendeu sopa de cenoura e era ervilha. Não falei nada, mas para uma profissional de jornalismo, isso me faz mal. Então, cheguei cedo no trabalho na sexta com um sorriso monalisa achando que o céu azul de brigadeiro apesar da chuva e do frio. Pensei que, como eu estava de bom humor, calma, tranquila, seria um bom momento para tentar dialogar e encontrar uma solução conjunta.
Comecei sorrindo e dizendo que temos que descobrir como melhor comunicar. Ele não aceitou meu comentário, passou para a defensiva e aumentou o tom da voz. Euzinha mudei de idéia mas ele continuou num discurso entre sílabas cortadas e eu tentando completar suas frases. Felizmente tudo o que eu faço tem provas escritas e ele perde sempre a razão. Gaguinho foi ficando vermelho, nervoso e começou a fazer o som da panela de pressão, o que me apavora cada vez que ele entra nesse estado pré-explosão. Euzinha tentando acalmá-lo, dizia, que o objetivo da conversa, era um diálogo, não uma disputa, que era para o bem e melhor de todos e ele “piiiiiiiiiiii” respirando com esforço, eu mais apavora já pensando que ele ia ter uma crise de coração ia morrer na minha cozinha e eu iria para prisão e perder um passaporte vermelhinho. Nada de resultado. Peguei sua mão entre as minhas e continuei tentando: “fica calmo, respira, não se exalte, eu estou aqui para resolver os teus problemas e não para dar problemas, fique tranquilo, não existe culpas, só soluções”, e nada. Ele gaguejando ainda mais, entre um “piiiiiiiiiiii” e um “uuuuuuuuuuu”, eu nada brasileira e nada drama queen, perguntei “o que você quer que eu faça? chore? Por favor fique calmo, Quer que eu me ponha de joelhos?” e a resposta era o som da panela entre pseudo-sílabas incompreensíveis. Claro, fiquei de joelho para quebrar o clima tenso ainda com a mão dele entre as minha. Nisso chega o rapaz da entrega e nos vê nessa cena mitológica e começa a rir. Gaguinho vê o ridículo da situação e ri também e a tensão da panela parte, ele respira e no final disse que eu tenho razão.
Isso eu sempre soube, mas solução que é boa, nada.